As cores de nossos óculos



Que cores tem os seus óculos? Ao realizar uma breve leitura sobre a Filosofia grega, pude perceber quão grandiosa foi a importância (e continua sendo) das doutrinas filosóficas defendidas por Sócrates, Platão, Aristóteles e os demais filósofos gregos da época. A forma extraordinária como estes homens, principalmente Sócrates, concebia a idéia de conhecimento, da verdade, da visão de mundo, de organização social, de democracia, de desenvolvimento intelectual, etc. Suas ideias têm sido exaustivamente estudadas ao longo de mais de dois mil anos e certamente não se esgotarão enquanto houver possibilidades de interpretação e entendimento por parte das mais diversas civilizações. Sócrates, por exemplo, não tinha respostas para solucionar os problemas e as mazelas sociais daquela época, e nem as teria hoje. No entanto, seus questionamentos faziam com que os jovens de seu tempo refletissem mais a respeito das situações vividas. E isso, era uma afronta para a aristocracia grega. Para os poderosos de Atenas, Sócrates tornou-se um perigo, pois fazia a juventude pensar.  Mas o que isso tem a ver com as cores dos meus óculos?
Jesus, o Mestre dos mestres, também incomodou...  Sua doutrina inovadora, suas parábolas, seu jeito de ensinar e questionar, assim como Sócrates, representava uma quebra de paradigma, incomodava muita gente. Principalmente os sumos sacerdotes, os fariseus e os doutores da lei. Mas o que isso tem a ver com as cores dos meus óculos?
Embora muitos digam que a filosofia seja o avesso da religião, e em certos pontos eu também concordo: no sentido de que a filosofia questiona em busca da “verdade” e a religião “apenas pede para crer”. O que se percebe diante do exposto, é certa semelhança entre as ideias socráticas e a doutrina de Jesus. Um fato bastante semelhante é que, assim como Sócrates, Jesus também não foi aceito. Aliás, observando a forma como Jesus ensinava, fica-nos a impressão de que o Mestre também bebera na fonte dos gregos. Não pretendo aqui estabelecer nenhum tipo de comparação entre Sócrates e Jesus, apenas faço um paralelo como forma de melhor explicitar o conteúdo exposto. Mas o que isso tem a ver com as cores dos meus óculos?
Confesso ter ficado extremamente chocado, quando certa vez ouvi de um amigo a seguinte frase “Não é o homem que existe por causa de Deus, mas Deus é que existe por causa do homem.” Admito ter levado algum tempo tentando digerir tal afirmação, até chegar a seguinte conclusão, “somos nós, seres humanos, os únicos seres viventes capazes de conceber a existência Divina, nenhum outro ser, tem essa capacidade e essa concepção”. Mas o que isso tem a ver com as cores dos meus óculos?
É impressionante como nossa visão muda em relação a determinadas coisas quando mudamos de lugar, de lado, de ponto de observação. Há vários fatores que julgo serem determinantes na mudança das cores dos nossos óculos, os mais comuns eu diria: o conhecimento e perda ou aquisição de poder, seja financeiro ou institucional. O conhecimento, porque nos permite ver as coisas alem das aparências e por diversos ângulos, nos permite fazer um “raio-x” de  uma determinada situação que sem esse conhecimento não seriamos capazes de fazer, e a perda ou aquisição de poder, porque interfere diretamente em nossa posição social.  E, portanto, somos involuntariamente obrigados a ver muitas das mesmas coisas que víamos antes, com outras cores, outras formas e até outra luminosidade. Este fator é muito comum no universo da política. Basta observarmos alguns discursos políticos e submetê-los a uma análise diacrônica para percebermos.
 Tenho acompanhado com frequência às Sessões Plenárias da Câmara municipal de nossa cidade, e analisando atentamente aos discursos dos nobres vereadores, tenho percebido como, mudar de lado às vezes faz toda diferença. Tenho notado que alguns vereadores ampliaram sua visão, ou seja, “mudaram as cores dos seus óculos”, mudaram seus pontos de vista com relação algumas coisas, ampliaram suas visões e hoje vêem coisa que antes não viam. Mas atenção! Este fenômeno também ocorre com muita frequência entre os cidadãos comuns. 
Podemos concluir, portanto, que as cores dos nossos óculos dependem da forma como nos convém olhar para uma determinada coisa. Elas caracterizam-se pela capacidade de reflexão a respeito desta coisa ou do nosso ponto de observação em relação à mesma. O conhecimento por sua vez, é algo tão extraordinário que na medida em que o adquirimos, na mesma intensidade vai clareando as nossas lentes e ampliando o nosso repertório de cores oculares. Em outras palavras, as cores dos nossos óculos estão intrinsecamente ligadas  àquilo que nós estabelecemos como sendo nossos referenciais.  A verdade e a mentira, o certo e o errado, o bom e o ruim, o bem e o mal, o belo e o feio. Tudo depende da claridade e cores dos nossos óculos e de nosso ponto de observação.
Então, você seria capaz de compreender porque nem o Filósofo grego nem o filho de Deus foram aceitos?  Que cores são os seus óculos? Que claridade eles têm? De que ponto você costuma observar as coisas? 

Autoria de Jurandi Pedrosa


Ainda bem que deu tempo




Não era muito tarde. Assistia despretensiosamente a um programa de televisão enquanto aguardava a outro que viria logo em seguida. Era um programa de auditório, o animador entrevistava a um grande astro da música, do cinema e da televisão brasileira. Os dois relembravam momentos da carreira do convidado que, referindo-se a um velho e grande amigo, pronunciou a seguinte frase “ainda bem que deu tempo”! Pronto! “Desabei”! Eu que há exatos  oito meses teria vivido a maior e mais dolorosa tragédia da minha vida, a prematura morte de meu jovem irmão Fábio com apenas 30 anos, do qual ainda hoje, em alguns momentos, padeço das mesmas inexplicáveis dores do dia seguinte  àquele tão duro golpe, Parei! Com o coração ainda um pouco dilacerado e meio sem teto, sem chão, talvez como se a bordo de um barco a deriva em meio ao oceano perguntas sem respostas. Porém, depois de algum tempo, algumas reflexões, consegui aos poucos me restabelecer e procurei a partir daquele momento tentar ver as coisas, mesmo as fatalidades, por outra vertente, outro ângulo. Muito embora saibamos que os mistérios de Deus sejam para nós ininteligíveis, devem ser ao menos, aceitáveis.
       Hoje, faz dez meses. Não posso imaginar que diferença fará daqui a dez anos. Afinal de contas, dez dias, dez meses, dez anos... É tudo como se fosse ontem. É uma coisa que só quem experimenta pode compreender, porque explicar é praticamente impossível.Bem, mas para não parecer sensacionalista e ficar aqui remoendo coisas tristes e desagradáveis, lembremos que em nossas vidas também há coisas maravilhosas e é sobre estas que pretendo escrever daqui por diante. Talvez, por uma ou outra razão, muitas delas terei que omiti-las. Não tenho a genialidade dos grandes escritores, nem tampouco a habilidade daqueles que no ato de escrever, o fazem com muita maestria. Para ser sincero, não sei nem porque razão estou fazendo isso.Retomando ao raciocínio inicial, faço a você um convite a uma reflexão sobre a frase que intitula este texto “ainda bem que deu tempo”! Quanto a mim, tantas coisas me vieram à mente ao ouvir-la, principalmente porque às vezes julgo-me extremamente ingrato para com nosso Criador Soberano, ao ponto de nem lembrar-me de agradecê-lo pelas coisas boas que me são concedidas. Mas posso afirmar uma coisa, ao ouvir a referida frase, recordei os momentos que meu irmão e eu jogamos futebol, contamos piadas, sorrimos um do outro, defendemos nossas convicções... Afinal de contas, éramos grandes amigos. Ele era palmeirense e eu... Ainda bem que deu tempo! Essa frase tocou-me tão profundamente que hoje a repito inúmeras vezes ao dia. Razões é o que não me faltam. E cada vez mais sinto a necessidade de dizê-la incansavelmente. Basta lembrar-me de coisas boas,  deparar-me com coisas e momentos bons ou até algo que não me seja muito agradável, inconscientemente acabo por falar, ainda bem que deu tempo!
        Por isso, à família, aos colegas de estudo, companheiros de trabalho, aos professores, alunos, às centenas de amigos e amigas conquistados em toda uma trajetória de vida, que bom poder dizer-vos “ainda bem que deu tempo”. Aos que vi partir tão cedo, aos que pude dar um abraço de chegada... Afinal, mais ou menos profundas, todos que passam por nós deixam em nossas vidas as suas marcas. Como diz Antoine de Saint-Exupéry em sua magistral obra, O Pequeno Príncipe “Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”.E por falar nisso, ler O Pequeno Príncipe, clássicos de Machado de Assis, de Shakespeare, Camões, por que não Gonçalves Dias, José de Alencar, ou Graciliano Ramos, em fim... Ouvir “A Rosa” de Pixinguinha; assistir a um especial de fim de ano de Roberto Carlos, dedilhar um violão e ter meu ego regado pelos aplausos dos amigos; ver o mundo passando pela maior e mais rápida transformação da história da humanidade (transformações tecnológicas), acompanhar regimes ditatoriais sendo derrubados por todo o mundo; o povo comemorar por todo o planeta a eleição do Papa Francisco, o primeiro Jesuíta assumir a liderança da religião mais influente na História da humanidade. Muito embora ainda não tenha sido o papa, um brasileiro é pelo menos um Latino Americano... Cultivar a terra e colher os frutos, ver o Brasil tornar-se penta campeão mundial de futebol, o Tricolor Carioca conquistar o tetra no Brasileirão, minha esposa viajar centenas de quilômetros para assistir a um jogo de futebol, ver meu garoto de dez anos sentir a sensação de marcar um gol, minha princesa de quatro anos “encantar” dezenas de pessoas com seu canto... Amar e ser amado... Ainda bem que deu tempo!
       E por fim, a ti meu garoto a quem dedico estas letras, foste um grande homem, deixaste teu legado;  conheceste mais que ninguém os lados bom e ruim da vida. Lutaste até o “último” suspiro com dignidade e sem murmúrio. Deixaste para todos nós, ensinamentos de que devemos está sempre preparados. Que Deus o tenha do seu lado! Hoje que bom poder dizer, ainda bem que deu tempo! Ah! Se isso não é um agradecimento, é pelo menos um reconhecimento da  grandeza do amor gratuito do Pai celestial. Ainda bem que deu tempo!

Texto de Jurandi Pedrosa, numa homenagem ao seu irmão Fábio Pedrosa


O queijo do homem, o bicho nem vê...


Essa lição trazida aqui deve ter vindo das leituras feitas de Adelia Prado, outros também, digo dela porque é de sua autoria o pensamento que diz :  ” Não quero a faca, nem o queijo, quero a fome”. Assim, percebo que com essa passagem posso aprender inúmeras coisas, apresentar diferentes olhares; penso,  por exemplo, a respeito de meus alunos da rede pública, na responsabilidade que assumo com eles em construir um mundo mais justo, com menos opressão, penso em meus pares ...
Comecei a compreender através de gráficos imaginários e desenhos feitos por mim, sobre as múltiplas formações, das disponibilidades de ferramentas, das experiências práticas e acadêmicas, dos diálogos para a construção de um ambiente mais saudável, da disseminação de tecnologias, das construções, das pontes... e infelizmente da transformação massificadora dos valores humanos e cristãos, valores que mais parecem epidemias espalhadas na sociedade contemporânea. E,se em mim houvesse o desejo de contentar-se facilmente com a possibilidade posta pela “faca” e ou o pelo  “queijo” de que adiantaria se desconheço a fome?
Em relação a isso, quando tenho oportunidade de viajar, para conhecer novas culturas e experiências, já aconteceu de ficar perplexa ao registrar exemplos mínimos, algumas vezes em terrenos mais áridos, capazes de fazer alguma diferença, quando acontece, traço vôos enormes, sonho com pequenas realizações, em pensamentos faço mágicas e malabarismos com os espaços e tempo disponíveis. Remonto-me, não pretendendo infringir as leis, exponho idéias e quantas vezes não consigo tirá-las  do plano do imaginário;no máximo,  retiro de cada leitura centenas de palavras para a composição de meus textos e ao editá-los posso perguntar: o  que trago de profissional nisso? Qual a dimensão histórica , o caráter científico, a solidez para quem o lê? Lembro mais uma vez da fome, de que a sente, de quem  a vê e muitos casos de que a toca. Sobre isso,  conhecer literatura, saber de crônicas, romances,poemas ou  de ter lido O quinze, Vidas Secas, Geografia da Fome não me habilita a registrar conhecimento suficiente sobre o tema; logo, sem apresentar nenhuma aspereza, digo às pessoas que aquilo que está óbvio não precisa ser dito ou reeditado.
Espero finalmente mais do que tudo, que meus leitores desejem extrair outras versões, novos olhares, novos desejos, porque o que escrevo não oferece abastecimento suficiente àqueles que aguardam  fatias maiores e com mais qualidade. Não discrimino as limitações, recrimino antes o saber contido, escondido em “grades”, as irresponsabilidades éticas, criando fronteiras para os milhares animados em busca de alternativas para saciar-se; por último encerro com o desejo de que todos nós, nas mesas em que sentarmos, ofertemos  mais do que ferramentas, providenciemos igualmente as vontades e realizações ou terei reescrito o que parece provérbio, o queijo  do homem, o bicho nem vê, nem come, afinal o comer, segundo Rubem Alves começa na fome de comer o queijo. (Aos que almejaram mais,  eta texto besta, meu Deus!)

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